quarta-feira, 7 de setembro de 2011

07 de Setembro - dia de ouvir dobrados!

07 de Setembro. Feriado Nacional. Independência do Brasil.

Certa vez, no Conservatório de música que frequento, estava conversando sobre dobrados com alguns amigos (só homens, pra falar a verdade). Daí um deles me perguntou: Qual instrumento tu tocas? E eu respondi: Piano. E ele retrucou: Uma pianista, mulher, que conhece dobrados? de que planeta tu vieste?!


Não posso dizer que sou ufanista radical. Mas com certeza este dia é muito especial para mim, pois me remete a lembranças de infância e de pessoas muito queridas. Especialmente do meu avô (Papai Querido para os netos) José Maria Pontes de Araujo. Abaetetubense com muito orgulho e muitas histórias para contar.

O 07 de Setembro sempre foi na minha casa um dia para se ouvir dobrados! Desde bem cedinho, meu avô colocava para tocar na vitrola de casa seus discos em vinil de repertório nacionalista: ouvíamos desde o Hino Nacional até os clássicos dos dobrados e marchas como Baptista de Mello e Cisne Branco. E não só isso, mas eu lembro de escutar maravilhada suas lembranças de quando ele ouvia tal repertório ser executado pela "Banda Carlos Gomes" (tradicional banda de Abaetetuba). Com sua extraordinária memória, meu avô lembra-se até hoje quem eram os instrumentistas, o percurso que faziam nas ruas de Abaeté, e como era difícil aprender tais músicas com pouco estudo musical. Isso me fez respeitar muito a história daqueles músicos e aquele repertório que eu ouvia a cada 07 de setembro.

E não só isso. Aprendi a compreender o dobrado musicalmente e artísticamente. Não é só música de marcha. Nem só música de militares. Obviamente, estas características são inerentes, mas além disso, os dobrados tinham uma função social - de juntar as pessoas nas praças dos interiores para ver suas bandas; função pedagógica -  pois os dobrados eram utilizados para o ensino musical; e também artística pois cada dobrado traz em suas notas um excelente domínio de composição e estética musical.

Por isso escolhi para este post de hoje, dois dobrados muito especiais e conhecidos do público em geral: "Capitão Caçulo" (também conhecido como Canção do Soldado) e "Saudades de Minha Terra". Ambos de compositores paraenses do início do sec. XX, e que até hoje sofrem para ter seus créditos dados aos verdadeiros compositores.

Segundo SALLES (1985), o "Saudades de minha terra" foi criado por Isidoro de Castro. Este compositor paraense, natural da cidade de Vigia, compôs este dobrado em 1906, e foi dedicado a Afonso Pena (Presidente da República), quando este visitou Belém naquele ano. No entanto, o "Saudades de Minha Terra", devido à precariedade de editar composições naquela época, se espalhou pelo Brasil ganhando o anonimato e várias letras.

Já o dobrado "Capitão Caçulo de Melo" teria sido composto também em 1906 pelo flautista Teófilo de Magalhães, e executado pela primeira vez no dia 11 de junho do mesmo ano, pela Banda de Música do 4o. Batalhão de Artilharia, em Belém, dedicado ao Capitão Antonio Caçulo de Melo. Este também foi um dobrado que quase perde o nome de seu verdadeiro autor para o anonimato. Felizmente, Teófilo de Magalhães conseguiu provar que este dobrado era de sua autoria ainda em vida. Já a letra, adicionada mais tardiamente, é do Major Alberto Martins, que não chegou a conhecer pessoalmente o autor da música. Este dobrado também é conhecido como Canção do Soldado, Hino do Exército, Canção do Soldado Paulista. (op.cit)


Fica então, registrada minha homenagem a esses compositores paraenses, ao meu avô, que me ensinou a ter um carinho especial por este repertório, e ao Brasil, que merece mais cuidado por parte de todos os filhos desta terra!

Referência Bibliográfica: SALLES, Vicente. Sociedades de Euterpe: as bandas de música no Grão-Pará. Gene Gráfica Ed.: Brasília, 1985.

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